domingo, 22 de fevereiro de 2009

Se pudesse escolher, não queria ser molde. Mas também não gostaria de ser inteiramente como o metal líquido e incandescente que, amorfo, só sabe ter a forma que o molde lhe dá.

Fazer como a forma, que sempre confere a cada porção do líquido e luminoso metal o mesmo desenho , me parece injusto, egoísta até! Mas agir tal qual como o metal que não sabe senão ter a forma de outrem, parece-me sem graça, tácito e passivo demais...

Haveria uma opção entre um e outro? Parece que ser-me-ia o ideal, mas... ainda não sei de sua existência.

Pois bom seria saber manter a minha forma principal, a essência, sabendo no entanto ajustar uma aresta aqui, uma curva ali, mudar uma face ou uma superfície acolá, para perfeitamente me adaptar. Sendo nem tanto molde, nem tanto metal em fusão.

Ao fim do dia, algo leva-me a crer que este meu anseio emerge não do meu estado fixo e invariável de forma, ou da necessidade de sentir-me livre, solto, fluído como o amorfo metal. Mas sim que, como molde que sou, talvez não esteja no mais adequado ponto da linha de produção, ou quem sabe porque não me sinto ainda apto a sentir as paredes externas do meu ser lentamente derreterem e esvaírem-se rumo à grande massa fluída do aço fundido.