Intolerância, ou De como vi um buraco em minha alma

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A alma

Esta, que tudo contém, tudo engloba

Que nos define, nos constrói quando a construímos

E que nos descontrói.

Tanto falei, tanto senti, tanto julguei

Até que um dia percebi

Que o que eu julgava e condenava

Passou a flertar com a alma minha.

Esta, reciprocamente, flertou.

Concordou, esqueceu o julgamento, não impôs a pena

E nada mais pude dizer.

Do sol, da areia, das águas, dos sabores.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O sol. Ao mesmo tempo imponente e tímido, castigante e infantil - ao brincar de esconde-esconde entre as nuvens não só o faz como também levianamente brinca com os humores e expectativas daqueles que o aguardam e nele depositam a esperança de dias de descanso. Aquece-nos, queima-nos, torna os dias mais belos, leves, azuis.

A areia, ah sim , ela. Carregados pelo vento,seus grãos são abrasivos, desgastam as pinturas, os objetos, a nossa pele. Adentram sapatos, máquinas, equipamentos. Mas, nessa sua onipresença, também abrigam os caranguejos, também relaxam o pé descalço que nelas anda, emitindo aquele triunfal ruído para o qual não se achou onomatopéia apropriada - ruído que representa o "cheguei, venci, me afastei do zum-zum-zum, do asfalto, do concreto e sou agora com a natureza, com a vida, com o ar puro."

Ah, o mar... As águas.
Este amontoado de águas salgadas, do sal que arde, resseca. Do sal que cura e dá sabor. Águas que refrescam, águas nas quais nadamos que nos roubam, nos livram dos males, dos sapos engolidos, dos rancores, do cansaço. Águas que ora ondulam, ora se acalmam. Águas que com seu constante ruído de vai-e-vem coordenado acalmam, transmitem tranqüilidade e bem-estar.

Os sabores! Sabores ilhéus, sabores do vilarejo. Da comida típica com seus camarões empanados inteiros, com cabeça, patas, casca. Da dança local e seu dinossáurico mascote. Das noites em volta da fogueira e do eventual (e tão estrangeiro ao local quanto seus visitantes) brigadeiro de panela.
E tantos, tantos outros que ao fim tornaram a experiència completa. Em especial aquele sabor que veio, como o tanino vem ao fim de uma taça de bom vinho, que dura e permanece vivo nos sentidos como o aroma das notas de fundo dos perfumes mais elaborados, como o cheiro das flores mais perfumadas.

O feriado recém passado caiu no meu dia-a-dia como uma luva.
No ritmo que ando, sempre sedento por um dia ou dois de alívio, tratou de refrescar-me, ao embarcar em uma viagem jovial, despida de confortos, com imprevistos, rumo a um lugar pitoresco, e o mais importante: em ótima companhia.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Cá estou, na encruzilhada. Sim, encruzilhada, um elemento tão... cliché entre os devaneios blogueiros. Ou não-blogueiros. Ou não-devaneios.

As ruas, estradas, insistem em se cruzar. Teimosas, arredias, insistentes, não resistem à tentação de encontrar-se umas com as outras; encontros estes que acabam por tornar-se motivo para praças, monumentos, fontes, jardinetes, semáforos, acidentes, encontros, desencontros.

Ora pois! Serão incapazes de seguir, em linha reta ou sinuosas, curtas ou longas, estreitas ou largas, cada uma o seu caminho, sem atravessarem-se entre si? Explica-me, ó sabio, como podem?

Enquanto a tal explicação não vem, resta-me continuar a reclamar. Eis meu reclame: enquanto as ruas e caminhos, simbólicos e significativos que sejam, ao cruzar, dão nascença a todo tipo de marco, comemoração, monumento; nós, seres (sub? des?)humanos, pouco fazemos de tantos que, como as ruas, nos cruzam, atravessam, encontram, conosco bifurcam, emendam, partem, chegam.

Miséria da humanidade! Façamos de nossas encruzilhadas, nossas esquinas, nossas junções, motivos mais que suficientes para monumentos, praças, obeliscos, jardins. Fontes e estátuas. Insuficientes e incompletos que sejam, cumprem paliativamente o papel de dar aos encontros do ser humano o devido valor.

Com a devida licença, ponho-me em marcha, deixando esta encruzilhada. Mas não sem um registro, sem uma recordação. Que venham, amigos, inimigos, afetos, desafetos, mães, pais, filhos, conhecidos e desconhecidos! Procurarei erguer, de cada esquina que fizermos, um memorial.