Quando em Roma...

domingo, 29 de junho de 2008

Ali estava eu.

Cercado de romanos por todos os lados, pisando em solo de Roma. Eu, um bárbaro exógeno ao povo de Julio César, esquecendo (ou tentando esquecer) os costumes e tradições da minha raça, e procurando, uma vez estando em Roma, fazer como os romanos.

Evidente que, para fazer como os romanos, há de saber como os romanos. Conhecer sua arte, sua música, sua cultura, seus costumes. Sua comida. Seus dias e noites, suas festas.

Ora ainda, para fazer como os romanos, há de ver como os romanos. Encarar o mundo e as pessoas como eles o fazem.

Para realmente fazer como os romanos, enfim, há de sentir-se romano.

E lá estava eu, um bárbaro exógeno. Exógeno bárbaro, visivelmente destoante da multidão, tentando enganar a mim mesmo e a todos, que sei fazer como os romanos, sei ser um deles.

Mas a minha bárbara origem não se deixa esconder.

A semente

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mais uma vez, ela me pegou. De surpresa, obviamente. Ora pois! E quando é que ela não me pega de surpresa? Ah, tu, vida! És sempre tão moleque, sempre ages repentina e fatalmente! E, por mais que eu queira, acredite, necessite, deseje, não consigo nunca estar preparado para as tuas peraltices.

E agora, resolves implantar mais uma vez em mim a dúvida. Agi, querendo convencer-me que despretensiosamente, apenas amistosamente, sem segundas intenções.

Confesso, atônito, que a reação que obtive não foi a que esperava...

Mas o meu íntimo não se engana, nem se deixa enganar, e teima por me lembrar, que não foi. Não foi o que? Nem despretensiosamente, nem sem segundas intenções, nem apenas amistosamente. Que farei? Deveria ter resistido? Serei agora o culpado por causar confusão na vida de outrem?


Acredito, pois, que não. Tudo o que fiz foi entregar a semente da discórdia. Lançá-la ou não aos férteis terrenos da alma depende de quem a recebeu.

Mas a dúvida, ah, esta não cala...

Das mornidões e dos meios-termos... considerações sobre o equilíbrio

terça-feira, 10 de junho de 2008

São tantas as virtudes, as vaidades, as emoções, as razões, os desvarios, as sapiências, sobre as quais pode-se falar. De todas elas, misturada junto àquelas que pendem mais para Este, e as que se retorcem mais para o Oeste, as que alogando-se ficam ao Norte, e as que vergam para o Sul, está uma que é todas, sem no entanto ser nenhuma em específico; de tudo faz parte, mas parece que nada é exatamente sua composição.

Ora, ouvimos diuturnamente amigos, pais, irmãos, tios, avós, professores, colegas, conhecidos, desconhecidos, afetos e desafetos, a exortar-nos que sejamos, não mais para cá, nem mais para lá, nunca tão acima, nem tão abaixo, mas sim no "meio-termo".

Estar ao centro, não pender para lado algum, firme, estaqueado como um alto e rígido pinheiro. Para onde foi a personalidade? Aquilo que me torna no "eu", e que te torna no "tu"? Estamos agora condenados à inocuidade, à infinita exatidão do ser igual a todos?

Aqui do alto (ou do fundo) da minha parcialidade não-central e não-igual prefiro acreditar que a real virtude, a verdadeira essência da convivência, não é o mero ser-igual, a mornidão, a indefinição. Bem se sabe: o que é morno, vomitar-se-á, lançar-se-á ao chão, desprezar-se-á... O que devemos exaltar, procurar, cultivar, é aquela virtude que se compara à simplicidade de uma criança, doce criança que (feliz dela!) não quer e não sabe julgar, pois julgar é condenar.

A este, que é como que um infante ainda não-desvirtuado, não-traumatizado pelos meios-termos do mundo. Mancebo doce e puro, inocente como as flores do campo, tu sim sabes respeitar aquilo que de cada um é intrínseco, aquilo que nos dá sabor, perfeitas imperfeições que nos fazem ser. E para conhecer-te há que antes saber quem é teu irmão, varão sisudo, enérgico, mas infinitamente terno, chamado Discernimento. Discernimento! Tu, que és mais perfeito e excelente do que o julgar! Desejo, agora e sempre, utilizar-te! Para quê? Quero ser capaz de cuidar, de tal modo que, em celebrando os meios-termos, não caia na desgraça de exaltar a mornidão, a indecisão, o meio-ser e o meio-estar, o quase-crer, o quase-ver; mas sim, dar valor ao teu nobre irmão, o Mancebo, ao qual deu-se o nome de Equilíbrio.