Das mornidões e dos meios-termos... considerações sobre o equilíbrio

terça-feira, 10 de junho de 2008

São tantas as virtudes, as vaidades, as emoções, as razões, os desvarios, as sapiências, sobre as quais pode-se falar. De todas elas, misturada junto àquelas que pendem mais para Este, e as que se retorcem mais para o Oeste, as que alogando-se ficam ao Norte, e as que vergam para o Sul, está uma que é todas, sem no entanto ser nenhuma em específico; de tudo faz parte, mas parece que nada é exatamente sua composição.

Ora, ouvimos diuturnamente amigos, pais, irmãos, tios, avós, professores, colegas, conhecidos, desconhecidos, afetos e desafetos, a exortar-nos que sejamos, não mais para cá, nem mais para lá, nunca tão acima, nem tão abaixo, mas sim no "meio-termo".

Estar ao centro, não pender para lado algum, firme, estaqueado como um alto e rígido pinheiro. Para onde foi a personalidade? Aquilo que me torna no "eu", e que te torna no "tu"? Estamos agora condenados à inocuidade, à infinita exatidão do ser igual a todos?

Aqui do alto (ou do fundo) da minha parcialidade não-central e não-igual prefiro acreditar que a real virtude, a verdadeira essência da convivência, não é o mero ser-igual, a mornidão, a indefinição. Bem se sabe: o que é morno, vomitar-se-á, lançar-se-á ao chão, desprezar-se-á... O que devemos exaltar, procurar, cultivar, é aquela virtude que se compara à simplicidade de uma criança, doce criança que (feliz dela!) não quer e não sabe julgar, pois julgar é condenar.

A este, que é como que um infante ainda não-desvirtuado, não-traumatizado pelos meios-termos do mundo. Mancebo doce e puro, inocente como as flores do campo, tu sim sabes respeitar aquilo que de cada um é intrínseco, aquilo que nos dá sabor, perfeitas imperfeições que nos fazem ser. E para conhecer-te há que antes saber quem é teu irmão, varão sisudo, enérgico, mas infinitamente terno, chamado Discernimento. Discernimento! Tu, que és mais perfeito e excelente do que o julgar! Desejo, agora e sempre, utilizar-te! Para quê? Quero ser capaz de cuidar, de tal modo que, em celebrando os meios-termos, não caia na desgraça de exaltar a mornidão, a indecisão, o meio-ser e o meio-estar, o quase-crer, o quase-ver; mas sim, dar valor ao teu nobre irmão, o Mancebo, ao qual deu-se o nome de Equilíbrio.

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